Como podemos nos inspirar em uma condição menos “colonizada” da alimentação?
Qual é o impacto da indústria alimentar na dieta dos povos indígenas?
O que comem os indígenas hoje?
Estas foram algumas das reflexões trazidas no cine-debate Sinapses Criativas, que exibiu no espaço Kumaras Garopaba (SC), o curta-metragem “A Terra me Disse” do diretor Pedro Medeiros. O documentário retrata a vida na recém formada aldeia indígena Tapirema, em Peruíbe (SP), e conta algumas histórias do povo Tupi Guarani, seus sonhos e sua resistência para proteger a natureza.
O Cine-Debate Sinapses Criativas é uma realização coletiva, através da Associação Sociocultural e Biodiversa Ygarapaba, um movimento apartidário, sem fins lucrativos que se estrutura na região de Garopaba e Imbituba a fim de promover a cultura, a educação e a valorização da sociobiodiversidade.
“O cine-debate trouxe questões profundas e necessárias para refletirmos sobre contextos atuais de comunidades originárias, soberania alimentar e degradação do meio ambiente. Estes três temas não estão separados e é necessário que as políticas públicas e os cidadãos e cidadãs assumam uma visão sistêmica sobre essa realidade”, conta a artista, e massoterapeuta Isadora Mun. “Achei o filme tocante e muito bem realizado. E o evento como um todo abriu espaço para um diálogo aberto, onde diversas perspectivas e experiências puderam ser compartilhadas. Grata a todos e todas que fizeram esse momento acontecer”, agradece Isa, que também é estudante e praticante de alimentação natural.
Após o filme, os presentes foram convidados ao diálogo, trazendo reflexões sobre temas como o conceito de território, a degradação cultural dos povos indígenas, ecologia, descolonização, diferentes cosmovisões e possibilidades de ação em apoio aos povos originários. O cine-debate contou com a presença do diretor de Cinema Walter Caira, da voluntária do Movimento Agroecológico do Bem Viver Gabriela Velasco, de representantes da Frente Organizada Popular de Garopaba, além dos associados e do público, que enriqueceu a troca com suas percepções, vivências e questionamentos.
“O filme inicia falando sobre a Aroeira, uma árvore do meu afeto. Plantei uma em frente a uma casa que morei, a vi crescer e desde então, elas estão sempre perto de mim. Por aí já fui enlaçada, pelo afeto. Cessar todas as referências que atualmente me atravessam com relação aos povos originários, é fundamental para que possa escutá-los e vê-los, como criança, com coração puro e aberto a aprender. Como menina. E por que é tão difícil, pós filme conversar sobre esse tema? Debater, dialogar…
Penso que é por que nenhum de nós naquela sala de cinema é um originário. E por não termos experiência de Sê-lo, qualquer pauta, solução, percepção ou crítica, será sempre de um lugar de especulação. Sentimentos de urgência, desconforto, inquietação e entre outros, sempre me visitam nesses encontros. É possível manifestar qualquer apoio ou “solução” aos Povos, se antes não reconhecermos em nós, pessoal e individualmente, os aspectos colonialistas, invasores e predatórios que nos formaram e estruturaram?
Talvez o mais urgente seja isso.Enquanto esse trabalho silencioso e profundo não for feito, qualquer tentativa de intervenção e solução diante dessa ‘causa’ será rasa e superficial. E sobretudo, os Povos da Terra nos ensinam sobre Enraizar e Ser Profundos.
Desde a base, desde o cerne. De baixo para cima, feito Aroeira mesmo.”
Cynthia Villalba, Artista Têxtil, Terapeuta e Ilustradora.
Apoio às famílias Guaranis Mbyá do Morro dos Cavalos
O encontro Sinapses Criativas, realizado em 11 de dezembro, foi um evento emergencial, com o intuito de arrecadar alimentos nutritivos para as famílias Guaranis Mbyá do Morro dos Cavalos (SC), que passam por situação de insegurança alimentar. O valor arrecadado com a entrada dos ingressos a R$10 será utilizado para compra de mantimentos necessários, logísticas de entrega e um fundo para ações da Associação Ygarapaba, que será aberta para novos associados em 2024.
O evento contou com a parceria da MECA, a Mostra Encantos do Cinema Ambiental e com o apoio institucional das seguintes pessoas e iniciativas, que formam a Associação Ygarapaba:
- Nathalia Nasralla, da Aduba Arte
- Michael Andres Lermanda Godoy, da Runakay Ecosyc
- Maykon Rodrigues, da Aoka Bioconstrução
- Milene Seer
- Glaucia da Rosa, da Saberes da Praia
- Larissa Notari e
- Thais Ribeiro, do Kumaras Garopaba
- Tatiana Bond, da Pousada Alecrim
- Marcos Iser Natureba
- Jéssica Dondoni, do Atelier do Agave
- Giovana Longhini
- Diana Melim
- Jane Vilella
- Laura Crestana
- Max Antunes, do Garopaba Sustentável
- Valéria Casttro