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Forró: Alma Musical do Brasil

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Xote, Xaxado e Baião: o Forró vem ganhando o mundo, reunindo música, dança e história numa mistura para lá de brasileira

Foto capa: Fabrício Photos

O Forró não é apenas um gênero musical; é uma expressão vibrante da cultura, tradição e alma do povo brasileiro, considerado Patrimônio Cultural do Brasil desde 2021. Nascido no Nordeste e espalhado pelo resto do país e mundo afora, é um som de raízes ancestrais que celebra uma rica tapeçaria de sons, ritmos e histórias.

O forró surgiu em meados da década de 1930, popularizando-se por volta dos anos 50 através do poeta, cantor e compositor Luiz Gonzaga (1912 -1989). Diz-se ser devido a ele o formato do trio composto pelos instrumentos musicais sanfona, zabumba e triângulo. Outros fatores como a migração nordestina para o sudeste, a divulgação midiática nas rádios e o interesse comercial das gravadoras, contribuíram para a popularização do estilo musical.

De onde vem o nome Forró?

Existem diferentes versões para o surgimento da palavra forró. De acordo com a Enciclopédia da Música Brasileira (1998), a palavra vem de uma derivação do termo africano forrobodó, sinônimo de festa, de arrasta-pé ou farra. Outra versão aponta a origem no termo inglês for all, vinda da época em que os funcionários ingleses trabalhavam nas construções das ferrovias em Pernambuco e organizavam festas e bailes abertos ao público. Na entrada, sempre tinha uma placa “For All” (para todos) e a apropriação do povo nordestino transformou em Forró.  

Polêmicas à parte, a primeira gravação da palavra forró que se tem registro fonográfico é de 1937, na canção Forró na Roça, de Manuel Queirós e Xerém pela RCA Victor. Inicialmente, as letras desse estilo retratavam hábitos e costumes do povo nordestino, assim como temas ligados ao amor, às lembranças e à saudade do Nordeste. 

A década de 1940 marcou o início da “Era de Ouro” do Forró, com Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, emergindo como uma figura central. Gonzaga, nascido em 1912 em Exu, Pernambuco, popularizou o gênero com hits como “Asa Branca” (1947), uma canção que retrata a vida e as lutas do povo nordestino diante da seca. Sua música “Baião” (1946), em colaboração com Humberto Teixeira, foi fundamental para estabelecer o baião como um dos ritmos principais do Forró.

Outros artistas também desempenharam papéis importantes na popularização do Forró. Jackson do Pandeiro, conhecido como “O Rei do Ritmo”, trouxe as influências do coco e do samba, com sucessos como “Sebastiana” e “Chiclete com Banana”. Dominguinhos, protegido de Luiz Gonzaga, continuou o legado do baião com canções como “Eu Só Quero um Xodó”. Elba Ramalho, com sua energia contagiante em palco, popularizou ainda mais o Forró nas décadas de 80 e 90 com hits como “Bate Coração” e “De Volta pro Aconchego”.

O Forró transcende a música, infiltrando-se em festivais como o São João, e aparecendo em filmes e novelas. Essas representações ajudam a manter o estilo relevante, celebrando sua importância cultural e social. E onde tem forró tocando, tem gente dançando. A dança é inseparável do Forró, com estilos que variam do mais colado ao mais elaborado e rodopiante. Além de ser uma expressão artística, a dança Forró atua como um catalisador social, unindo pessoas de todas as idades e origens.

Forró como expressão do corpo e conexão entre as pessoas

Há quem estude as diferentes vertentes e há quem apenas sinta. E o que o forró tem de tão especial é o fato de ser uma dança fácil e democrática. Não importa a classe social, a cor ou o credo. Na hora do baile, o forró é para todos! “O Forró é uma dança fácil de dançar, que não requer tanto estudo, como outros ritmos como a Salsa, o Zouk, e a Gafieira. No Forró, você pode chegar e dançar, e essa facilidade cria mais interação, faz desse ritmo um movimento cultural que não é comum acontecer nas demais danças, tão aberto”, explica o Shamak, que é professor de dança há 23 anos. 

“Entre os Festivais, o mais importante e expressivo, tanto em número de dias (10 dias)  quanto de atrações, é o Festival Nacional de Forró de Itaúnas (22 edições). Por lá, no mês de julho circulam cerca de 15 mil pessoas diariamente e é onde acontece o concurso de bandas e de onde já saíram grandes nomes da nossa música”, conta a forrozeira Ana Paula. “Durante o ano inteiro acontecem os festivais, às vezes mais de um festival por mês, em praticamente todos os Estados do Sul e Sudeste e Brasília.”

Fácil, democrática e profunda. Para o forrozeiro Bruno Lenzi, a dança tem o poder de conectar pessoas a seus corpos e introduzi-las no mundo da arte. “Foi o que aconteceu comigo. O Forró me conectou comigo mesmo e abriu as portas para minha veia artística. É incrível o quanto essa expressão artística de dançar pode ser significativa na vida das pessoas no sentido de estimulá-las a continuar pondo para fora o que elas têm dentro de si”, conta. 

Para a forrozeira Simone Freitas o estilo musical sempre foi um grande espaço de conexões, não somente através da dança, mas da atmosfera de amizade. “Eu tenho 46 anos e nos últimos 25 o Forró esteve presente. É muita história, vivências, experiências, amizades. Hoje, a maior parte das minhas amizades são originadas no Forró, tenho amigos de verdade que conheci nesse meio. E agora, danço super pouco, mas amo estar no ambiente de Forró com meus amigos, ouvindo a música”, conta ela.

Dos festivais que já foi pelo Brasil, e das experiências que viveu, Simone quis deixar na pele o amor pelo ritmo brasileiro que já faz parte de quem ela é, tatuando os instrumentos originais do estilo (f). “Tem uma música que fala: Se não fosse o Forró, o que seria de mim,  Deus meu? É sobre isso”, completa. 

Um mergulho nos diferentes tipos de Forró

A sanfona (ou acordeão), introduzida no Nordeste brasileiro no início do século 20, tornou-se o instrumento ícone do Forró, acompanhada pelo triângulo e pela zabumba. Essa combinação de instrumentos permite uma ampla gama de expressões musicais, desde melodias mais melancólicas a ritmos freneticamente dançantes. 

Banda Erva Rasteira: Gabriel De Bem, Henrique Soares e Marcelo Besen

No forró, existem gêneros específicos como o Baião, Xote, Xaxado, Coco, Embolada, Arrasta-pé, Rojão, e por aí vai! “Existem ainda, algumas outras classificações, mais voltadas ao conceito estético, como Forró Universitário, Brega, Moderno, Estilizado, Eletrônico, Pé de Serra”, conta Henrique Soares (, músico da banda Erva Rasteira, de Florianópolis (SC). “Acredito que estes movimentos musicais surgem como necessidade de mapeamento regional, temporal e estético”, completa o zabumba do grupo.

Quais são os tipos de Forró Pé de Serra? 

Baião

Ritmo musical e de dança do nordeste Brasileiro, com origens no Lundu Africano e nas danças indígenas. Antes de sua popularização no Sudeste, o Baião já era cantado por violeiros, bandas e conjuntos do interior nordestino. Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira convencionaram o Baião conforme entrevista ao Jornal O Pasquim, em 1971: “Eu tirei justamente do bojo da viola onde o cantador faz o tempero para o improviso, para o repente. Ele costuma cantar fazendo o ritmo no bojo da viola e o dedão vai comendo nos bordões. Eu peguei essa batida, criei um jogo melódico e Humberto colocou a letra”.

Xote

A palavra tem origem da dicção popular alemã “schottische” que originou a expressão “xote” ou “xótis”. É uma dança de salão, semelhante à polca, mas com andamento mais lento. Surgiu na Alemanha e se espalhou pela Europa chegando ao Brasil em meados do século XIX, onde animava os salões aristocráticos. Rapidamente, o gênero se popularizou por todo o território nacional adquirindo características específicas em cada região do país. No Sul o instrumento que se destaca no ritmo é a gaita, já no Nordeste, a sanfona. Na mesma entrevista, Gonzaga descreve o Xote como música estrangeira que ganhou características do Nordeste. Luiz fala sobre o Xote nordestino como um xote malandro, xote pé de serra, uma forma matuta de dançar, com letras que contam histórias engraçadas e divertidas.

Xaxado

Existem diferentes versões para a origem do Xaxado, a mais aceita diz que teria vindo do Cangaço. Como não haviam mulheres nos bandos de cangaceiros, eles dançavam com seus rifles em momentos comemorativos e a dança se tornava basicamente masculina. Com a vinda das mulheres aos grupos e às danças, a coisa começou a se misturar.  Segundo a Enciclopédia da Música (1998) e o historiador Luís da Câmara Cascudo (1975), o Xaxado é dança em círculo e em fila indiana, sem volteio, avançando o pé direito em 3 e 4 movimentos laterais e puxando o esquerdo, num rápido e deslizado sapateado. O nome da dança, desta forma, é uma onomatopeia do som característico produzido pelas sandálias arrastadas no chão. Atualmente o xaxado é dançado de forma enlaçada entre os parceiros da mesma forma que os outros gêneros do Forró, desvencilhando completamente da maneira como faziam antigamente.

Conheça a Revista Forró do Gogó ao Mocotó

Festival de Forró do Rosa

Com toda essa mescla bem brasileira, o Forró ultrapassou as fronteiras do Brasil, especialmente a partir dos anos 2000, com a realização de festivais internacionais de Forró na Europa, como o “Forró de Domingo” na Alemanha, e o “Forró London” no Reino Unido, atraindo entusiastas de todo o mundo. “Isso que acontece no Forró, que rola em raros outros estilos de dança, são os festivais, que é uma oportunidade de convivência. As pessoas ficam três, quatro dias juntas, interagindo além da dança e criando conexões”, reforça o professor de dança e forrozeiro de carteirinha, o Shamak.

Em abril, a Praia do Rosa (SC), uma das mais belas baías do mundo, recebe a segunda edição do Festival de Forró do Rosa, com mais de 40 horas de forró em quatro dias de evento e atrações de todo o Brasil.  Uma oportunidade de sentir no corpo – e na alma –  toda a energia de um dos ritmos mais brasileiros de todos os tempos.

Serviço:
O que: FESTIVAL DE FORRÓ DO ROSA – 2ª edição 
Quando: De 11 a 14 de abril de 2024 
Onde: na Praia do Rosa, Imbituba/SC.
Quanto: Ingressos com desconto especial no link
Mais informações: pelo perfil no Instagram @festivaldeforrodorosa 

Imagens: Lucas Oficial Fotos, Arquivo Pessoal