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Esgoto: conheça os principais sistemas centralizados e descentralizados de saneamento

estações de esgoto descentralizadas (3)
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Seguindo em nossa série sobre o esgoto sanitário, hoje, o Arquiteto e Bioconstrutor Marco Aurélio Silvestre apresenta um pouco sobre as estações centralizadas e descentralizadas de tratamento de esgoto sanitário.

Os serviços de esgotamento sanitário poderão ser disponibilizados de forma que todos os esgotos gerados em uma região sejam encaminhados para um único ponto, promovendo assim uma centralização do sistema. Ou podem ser subdivididos para pequenos aglomerados em uma mesma bacia de escoamento, caracterizando-se em uma descentralização dos serviços. Ainda, existem as Estações de Tratamento (ETE) compactas, tratando o esgoto no próprio local da fonte geradora, reduzindo assim custos com o transporte dos esgotos gerados.

Vamos entender melhor abaixo um pouco de cada sistema. 

Sistema centralizado

A gestão centralizada é amplamente usada como método de tratamento de grande volume de águas residuárias e industriais. Este é o sistema mais comum em regiões com grande densidade populacional e/ou elevado nível de urbanização, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Por receber um volume muito grande de esgoto, esse tipo de processo envolve grandes instalações que normalmente são administradas pelo poder público. Dadas soluções exigem técnicas avançadas de tratamento e grandes áreas para instalação da estação e redes de tubulação, bem como grandes investimentos financeiros para implantação e manutenção de todo o sistema.

Como consequência da amplitude dessa forma de gestão, deduz-se que as demandas em termos de área superficial necessária para os processos de tratamento sejam bastante significativas, provocando impactos ambientais consideráveis. É possível que devido às dificuldades, exigências estruturais e operacionais, além da elevada demanda financeira em todo o ciclo de tratamento, haja tamanha precariedade no fornecimento de saneamento básico de qualidade, que atenda de forma digna e justa toda a população brasileira.

Por exemplo, em uma estação de tratamento de esgoto centralizada, é necessário aproximadamente o dobro do volume de água limpa para que haja a diluição do volume de esgoto. Ou seja, para cada um litro de esgoto, são necessários dois de água limpa para seu tratamento, o que pode ocasionar, em regiões sensíveis a falta de água para consumo da população.

Convém salientar que os processos de tratamento de esgoto comumente aplicáveis nesse cenário são provenientes de sistemas mecanizados, envolvendo um custo considerável em sua implantação e manutenção, além da inevitável geração de lodo decorrente do processo, o qual necessitará também de tratamento específico, encarecendo ainda mais o sistema.

Sistema descentralizado

Os sistemas descentralizados surgem como alternativa para suprir as necessidades sanitárias da população que reside em regiões afastadas dos centros urbanos, que decorrem da ausência de infraestrutura pública. Essa alternativa permite que doenças e contaminações sejam reduzidas, buscando manter também as fontes de abastecimento de água seguras, pois em muitos casos em que não há coleta e tratamento de esgoto o abastecimento de água também pode ser precário. 

Tais processos de tratamento vêm ganhando espaço cada vez maior e traz a sustentabilidade como aspecto essencial, por ser uma opção de baixo custo e que causa menor impacto ambiental dado a necessidade de infraestrutura e instalações de tubulações reduzidas, se comparado ao sistema centralizado. Essas soluções atendem pequenos povoados e populações pobres afastadas de regiões urbanizadas de modo satisfatório.

Wetlands

Wetlands naturais e construídas

Wetlands construídos (WC) são sistemas concebidos para replicar e otimizar processos naturais de transformação da matéria orgânica e ciclagem de nutrientes, que ocorrem em ambientes alagados, como pântanos e mangues. Normalmente, são utilizados como sistemas de tratamento de efluentes de diversas origens, destacando-se os efluentes industriais, agrícolas, domésticos ou pluviais. Contudo, os WC também podem ser aplicados para o controle de enchentes, retenção de sedimentos e restauração de rios urbanos poluídos

As wetlands, conhecidas também como zonas úmidas ou terras alagadas, nada mais são do que zonas de transição entre ambientes secos e úmidos, como os pântanos que ocorrem em regiões de águas doce e salgada, essa zona conta com ecossistema particularmente rico em biodiversidade, plantas adaptadas a ambientes alagados, como as macrófitas aquáticas, sendo capazes de realizar remoção de matéria orgânica e inorgânica (KIVAISI, 2001).

Assim como as lagoas de estabilização, existem diversas configurações de wetlands construídas com a tentativa de reproduzir e aprimorar as condições e propriedades dos ambientes alagados naturais, realizando-o através da disposição do efluente em material filtrante, seja através de fluxo vertical, horizontal ou combinado, associado à macrófitas aquáticas com o objetivo de realizar remoção de matéria orgânica, inorgânica a níveis similares aos de unidades de grande porte e mais tecnológicas, além de redução de nutrientes e organismos patógenos do esgoto de forma eficiente.

Árvore, Ser Técnológico

As wetlands têm ganhado cada vez mais atenção nas últimas décadas, por se apresentar como alternativa de tratamento seguro e de baixo custo, então as pesquisas sobre essa alternativa têm crescido e atualmente na literatura encontramos duas grandes divisões de sistemas de wetlands construídas: os sistemas de escoamento superficial (free-water-superface) e os sistemas de escoamento subsuperficial 

Considerações finais

O alto custo dos sistemas centralizados de coleta e tratamento de esgoto dificultam o investimento por parte do Estado nessas cidades pequenas. Da mesma forma em áreas rurais, impedem a sua universalização.  Acontece que o custo de ampliação da rede e implantação é altíssimo e isso tem reduzido a viabilidade técnica e operacional dessas soluções. Às vezes, o esgoto é até coletado, mas por falta de rede, não consegue chegar à ETE e é jogado sem tratamento no meio do caminho.

Nesse sentido, as tecnologias de tratamento aplicadas em sistemas descentralizados têm demonstrado robustez tanto quanto a qualidade de efluentes produzido, com pelos aspectos de sustentabilidade, além de ter seus custos e operação menos complexos e permitir a recuperação de energia e nutrientes.

Visto isso, é necessário ressaltar o papel do gerenciamento das rotas do saneamento, buscando alcançar níveis cada vez maiores de universalização, alcançando não só as grandes metrópoles, mas, sobretudo, as comunidades isoladas, empregando os sistemas descentralizados na construção de alternativas para amenizar os impactos que as desigualdades sociais e econômicas causam à essa fatia da população, e provendo a sociedade e o meio ambiente da proteção sanitária.

Por Marco Aurélio Souza Silvestre
Arquiteto e Bioconstrutor especialista em Sistemas de Tratamento de Esgoto Ecológicos
CASABIO