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Resíduos do consumo: o lixo de Garopaba é um problema nosso!

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Prejuízos econômicos, sociais e ambientais: a falta de gestão adequada dos resíduos sólidos afeta a todos os cidadãos. Conheça a realidade de Garopaba

Quem trabalha com reciclagem de resíduos sólidos arrepia quando ouve a palavra “lixo”. Isto porque muitos materiais que poderiam retornar para a cadeia através de reutilização e reciclagem são erroneamente chamados de “lixo” e abandonados para ocupar os aterros sanitários. O que muita gente não se dá conta, é de que os maiores prejudicados com a falta de gestão adequada são os próprios geradores dos resíduos, ou seja, todos os cidadãos.

Reciclagem é economia circular, lixo é prejuízo financeiro

No verão de Garopaba, a empresa Resamb coleta 70 a 80 toneladas de resíduos por dia. Menos da metade deste montante (bem menos) está separada entre resíduos recicláveis e orgânicos, o que já dificulta o trabalho dos profissionais que fazem a triagem e a separação do material reciclável, como o Nacilien Simon, há 4 anos na empresa. “Seria muito melhor para a gente se os materiais fossem separados, pelo menos seco do orgânico. Às vezes, a gente perde um tempão tendo que abrir garrafas de água ou de suco, por exemplo para esvaziar, porque as pessoas mandam até embalagens lacradas”

Mas esta não é a pior parte do trabalho do Nacilien e dos cerca de 80 profissionais que atuam na coleta e triagem dos resíduos de Garopaba. Além do atraso no processo de separação, fica evidente o desrespeito à dignidade e o prejuízo à saúde e bem-estar dos trabalhadores. “Uma vez eu abri uma panela de pressão, porque a panela é reciclável, as borrachas, a tampa, tudo, e tinha fezes dentro da panela. Isso desanima a gente”, conta o Paulo Soares, especialista nos eletroeletrônicos e na separação de materiais como ferro, cobre e alumínio.

Sem coleta seletiva, sem saúde coletiva  

O trabalho de coleta e separação de resíduos em Garopaba é visivelmente insalubre. Os profissionais não utilizam máscaras e estão expostos a um alto nível de mau cheiro. Isto porque a equipe de triagem precisa abrir cada sacola que entra na esteira e procurar, em meio a rejeitos como fraldas descartáveis, papel higiênico usado e restos de comida – por vezes estragada -, as peças que são recicláveis.

A quantidade de resíduo que chega ao centro de triagem da Resamb é bem superior à capacidade de separação dos materiais para destinação à reciclagem. “Nossa média anual de desvio do aterro (venda de materiais para a reciclagem) é de 30 a 35%. Na baixa temporada, chegamos a quase 50%, mas no verão, como a quantidade aumenta muito, ficamos em torno de 22%”, explica o Joaquim Pacheco, proprietário da empresa. 

Alumínio separado e compactado para a venda

Joaquim projeta a expansão da triagem para o triplo da capacidade para aumentar as taxas de desvio do aterro e também informe que aguarda a liberação do Instituto do Meio Ambiente (IMA) para iniciar a compostagem de resíduos orgânicos no espaço. Por hora, ele garante que a “coleta de todos os resíduos juntos” não impacta nos números finais de reciclagem. “Nosso caminhão não amassa o lixo, ele faz uma compactação leve e tudo pode ser reaproveitado.”

Cidades de lixo

Os rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado), os resíduos orgânicos e os materiais que não são destinados para a reciclagem – a grande parte dos resíduos sólidos urbanos – vão diretamente para o Aterro Sanitário de Biguaçu (SC), que recebe, diariamente, mais de 3 mil toneladas de resíduos de toda a Grande Florianópolis para serem enterrados. Isso mesmo: os governos municipais pagam por tonelada de “lixo” e, com duração entre de 10 a 15 anos, os aterros sanitários estão longe de serem uma solução sustentável, apresentando grande impacto ambiental, social e econômico.

Aterro Sanitário, créditos Gabriel Jabur/Agência Brasília no Flickr sob CC BY 2.0

Entre os principais problemas dos aterros está o fato de que os resíduos não são tratados e sim soterrados, o que gera altas quantidades de chorume e gás metano, um agravante para o efeito estufa e a crise climática. Os gases também afetam as populações adjacentes e os animais do entorno. Se estes resíduos gerados pelo depósito não são tratados de maneira eficaz, a poluição se torna imensurável. O chorume, por exemplo, ao se infiltrar no solo, causa a poluição dos lençóis freáticos e aquíferos subterrâneos. Além disso, os metais pesados que fazem parte de sua composição tendem a se acumular nas cadeias alimentares, causando prejuízos à saúde de plantas, animais e seres humanos. Hoje, no Brasil, 60% da destinação dos resíduos coletados vai para os aterros. O restante fica ainda em lixões, locais onde os problemas mencionados não são sequer monitorados. 

O cidadão paga por tudo isto: pela coleta, para enterrar o resíduo e também sofre as consequências socioambientais do conceito equivocado de “lixo”. Segundo o Código Tributário de Garopaba, a taxa de coleta anual de serviço de lixo fica em torno de R$150, cobrado no IPTU, conforme o tamanho da residência. 

Já os impactos gerados pelo transporte de resíduos por quilômetros afeta a qualidade das estradas, além de gerar prejuízos socioambientais como contaminação de água, ar e solo quando não realizados da maneira adequada. 

“Lixo é um erro de design”

Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar. A Reciclagem é a última das soluções para o problema das cidades feitas de lixo que se formam pelo globo. Anterior a ela, estão medidas como a redução do consumo de materiais descartáveis, embalagens e a adoção de hábitos de reaproveitamento de materiais, para que se possa trilhar o caminho para um futuro sem lixo.

Porém, é visível que, sendo a maior parte dos resíduos gerados reciclável, uma atitude conjunta de cidadãos, empresas e governos pode evitar que a enorme quantidade de materiais úteis para a cadeia produtiva acabe contaminando solo, águas e vidas por milhares de anos.

Separar os resíduos e destinar corretamente é o mínimo que se pode fazer, assim como compostar os resíduos orgânicos, uma forma de reciclagem fácil, simples e eficaz. Os cidadãos também podem cobrar do Governo e das empresas responsáveis uma coleta seletiva adequada e políticas públicas de educação ambiental, além do aumento nos índices de reciclagem, bem como das empresas das quais costumam comprar. “O planeta é o que todos temos em comum”, e a responsabilidade é compartilhada. 

Confira aqui os dias e horários da Coleta Seletiva de Garopaba

Para conferir as rotas, o contato é: 48 33541663

Confira aqui como funciona a Cooperativa de Catadores de Imbituba 

Por Glaucia Rosa Damazio
Jornalista especialista em Sustentabilidade