Os olhos azuis na pele negra enxergam pouco do que miram, mas muito além do que as pessoas comuns conseguem ver. Dona Adelaide Maria de Jesus Nascimento é uma mulher de fé e de amor. “Vem dinheiro, vem saúde”, diz ela, enquanto sacode o ramo verde de aroeira e conversa com Deus.
“Ama Jesus”, pede. Novidades ela também conta – só as boas. “Eu sei. Posso não contar, mas eu sei”, alerta. Sempre bem arrumada, com um chapéu ou um lenço, ela recebe com carinho a todos que aparecem. Chega a 70 pessoas num único dia, de todas as partes de Santa Catarina e dos estados vizinhos, até de fora do Brasil. Todos em buscam da sua bênção e da cura que sugere por meio do conhecimento das ervas.
Benzendo desde os 12 anos, Dona Adelaide não foi ensinada por ninguém, mas descobriu o dom sozinha, ou melhor, por Jesus, como ela conta. “Tá tudo bem? Tá! Fé em Deus”, ela aconselha. “Jesus te ama. Eu te amo”, declara. Do único casamento, foi mãe de seis filhos, que criou com garra, benzendo, pescando cará e matando siri na lagoa. É mãe também de todos os netos e bisnetos. É mãe de uma comunidade chamada Aldeia. E adota todos aqueles que a procuram.
“A mãe é exemplo de bondade, de respeito e honestidade. Ensinou a gente a lutar pelos nossos objetivos”, conta a filha Eliete. “Com ela, aprendemos a respeitar as pessoas, a ser cidadãos de bem e não ter mágoa no coração. Não dá pra descrever a mãe em palavras”, emociona-se o filho Antonio.
“Sou médica, como a minha avó e a minha bisavó. Só não sou porque não estudei, mas sou médica que benze”, conta Dona Adelaide aos sorrisos. Dá receita, dá remédio e dá amor. Em troca, deixa-se a contribuição que quiser. “E eu te amo”, abençoa. E nós também!
Dona Adelaide é uma joia preciosa da Comunidade Quilombola Aldeia, localizada no bairro Campo D’una – Garopaba – litoral sul de Santa Catarina. Com mais de 90 anos (a idade é incerta), dona Adelaide já benzeu dores físicas e espirituais de gente dos quatro cantos do mundo.
Por Glaucia Rosa Damazio
Jornalista