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Nuku Mae Yuxibu: Unidos pelo propósito de regenerar em Imaruí

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Resgatar os saberes ancestrais, integrar biodiversidade e cultura, preparar a terra e plantar sementes para a nova era é a missão da Família Mai Itxu

Ao sul da Serra do Tabuleiro, a maior reserva ecológica de Santa Catarina, mais especificamente no Sertão do Jacó, na cidade de Imaruí (SC), se estrutura um coletivo de pessoas buscando a regeneração: da floresta, das pessoas, do planeta. A família Mai Itxu, que significa “filhos da terra” começou a se reunir há seis anos, com o casal Pedro Ixã e Victoria Buni – os nomes de origem Huni Kui foram dados pelo Pajé do Breu Isaka Huni Kuî, em uma das primeiras viagens do casal ao Acre.

Na época, conheceram também o Mapu Huni Kuî, liderança indígena que carrega a missão de comprar terras privadas para libertar, reflorestar e regenerar, trabalhando com as medicinas sagradas, as plantas e a biodiversidade. “Esse era também o nosso desejo e aí compramos essa terra aqui com o mesmo propósito. A integração da biodiversidade, visando a cura da terra, trabalhar o solo, gerar alimento, parar de comprar do supermercado, que hoje a gente normalizou comer alimento com veneno”, conta o Pedro. 

Durante a pandemia, Mapu e o sobrinho Ika Yube Huni Kuî passaram quatro meses com Pedro e Victória, em Imaruí, fortalecendo o propósito. “Mapu comprou 22 hectares aqui, ao nosso lado, depois o Ika nos ajudou a libertar outra terra e continuamos o movimento indo para o Acre e eles vindo para cá. Nós da família chamamos a terrinha de Aldeia Nuku Mae Yuxibu , que significa “Nossa terra, terra dos seres encantados”. Temos uma gestão parecida com as aldeias indígenas. Começamos com 3,5 hectares de terra e hoje entre todos nós já libertamos 40 hectares de floresta”, reforça. 

“Sem a floresta, a humanidade não vive. A gente já sabe que a floresta nos dá água, alimento, a fauna, a flora, a vida. Muita floresta já foi devastada. Nos últimos 30 anos, a Amazônia já perdeu uma área do tamanho do Chile. Aqui onde vivemos tem macaco, tucano, onça, anta, tamanduá, porém representa apenas 1% do que restou da mata atlântica de Santa Catarina. Se acabar a floresta, não vai dar pra plantar dinheiro.”

Portas abertas para a comunidade

Nuku Mae Yuxibu é uma associação beneficente, um instituto registrado e apto para trabalhar com medicinas como a Ayahuasca. Através das cerimônias espirituais e eventos, como a Festa Junina, o coletivo que conta com nove moradores fixos e muitos membros espalhados pela região gera recursos para serem investidos na própria terra, através do plantio e da recepção e acolhimento a indígenas Huni Kuî e outras etnias. “Nós recebemos aqui aqueles com trabalho sério, que tragam o propósito de fortalecer a cultura originária do seu povo. Servimos como uma ponte, para que possam vender seu artesanato, arrecadar valores através das medicinas e das campanhas”, pontua Pedro Ixã.

Medicinas da Floresta

No espaço acontecem as cerimônias com as medicinas de Ayahuasca – um chá feito de duas plantas sagradas nas culturas indígenas: jagube ou mariri e chacrona ou rainha na nomenclatura popular. “Essa medicina é uma ferramenta para expandir a consciência, é um olhar para dentro de nós mesmos e que nos conecta diretamente com a fonte da criação. Cada planta tem um propósito de existir nesse planeta, assim como nós, e para cada doença no mundo, vai ter uma planta que será a cura ou irá auxiliar a aliviar o sintoma. Porém, estas plantas são sagradas, é um presente do Grande Espírito (Deus) para a humanidade. Em cada continente do mundo existe alguma planta, fungo ou até mesmo alguma medicina de origem animal, que serve para religar o ser humano com sua essência, Ayahuasca é uma delas”, explica Ixã.

“Também trabalhamos com a medicina do rapé, que tem uma energia mais ‘terra’, muito utilizada por quem tem rinite, sinusite, enxaqueca. Trabalha também questões emocionais e do pensamento; muitos pensamentos ou falta de foco, o rapé ajuda a concentrar. E como toda a medicina e todas as plantas, o rapé é um espírito e trabalha no campo espiritual. Ele é feito da folha do tabaco e da cinza de uma árvore.

A Sananga, que é o “colírio” da floresta, feito através da raiz de outra planta, serve para curar panema (falta de sorte, maus espíritos), abre o nosso terceiro olho e deixa nosso espírito forte e nossa matéria (corpo) limpa.

Todas as medicinas devem ser administradas com muita cautela e seriedade, por isso nosso contato e estudo com os povos originários, ninguém melhor que eles para nos guiarem ensinar a respeito das plantas sagradas.

Trabalhamos pela união das culturas. Não acredito que exista um único povo que seja o dono da verdade absoluta, cada povo tem algum conhecimento para compartilhar, e é através da integração de toda essa diversidade cultural é que vamos realmente evoluir como espécie e como seres humanos. Nosso sonho é levar um Pajé Huni Kui para conectar com um Pajé da Nação Q’ero, unir os povos e os conhecimentos em prol da humanidade e da nova Era.” 

Para saber mais:

Por Glaucia da Rosa Damazio
Fotos: Laion Cantarelli / Arquivo pessoal / @estrela26.11 / Glaucia Rosa Damazio