Talvez seu primeiro contato com a Bidens Pilosa, também chamada picão preto ou carrapicho, tenha sido assim: você andou por algum lugar com pasto alto e voltou com pequenas hastes pretas fincadas na roupa, as sementes do picão. Por essa característica, essa nativa do território brasileiro irrita muita gente. Mas aderir a superfícies também é uma das formas que ela encontra de se reproduzir, já que se propaga apenas por sementes.
Pois sim,o carrapicho é chato quando gruda na roupa e se espalha fácil, mas antes de sair por aí arrancando todos que ver pela frente, saiba que ele é super benéfico a um órgão vital humano: o fígado . De acordo com o livro Plantas Medicinais no Brasil (H. Lorenzi e F.J. Abreu Matos), estudos científicos comprovam sua ação protetora ao organismo em relação à toxinas, reduzindo danos causados ao fígado. Na sabedoria popular, também é conhecido por seus efeitos diuréticos, e usado como auxiliar no tratamento de hepatites, infecções urinárias e diabetes. A infusão é uma das formas mais tradicionais de utilizar o picão, mas dele também podem ser extraídas tinturas.
Sabe o que mais? O picão preto é uma PANC – planta alimentícia não-convencional – e pode ser preparado como salada, refogado, no suco verde, na farofa… enfim, várias possibilidades. Contém vitaminas e minerais, sendo rico em vitamina E, o que o torna um alimento antioxidante. A vitamina E protege o corpo da ação dos radicais livres e previne o envelhecimento da pele. Por esse motivo, o carrapicho também vem sendo estudado na área da cosmética. Quem diria, hein?
Ainda chamam o picão de inso, mas ele é um grande benéfico não só para as pessoas. É um vegetal rústico, que consegue sobreviver mesmo em solos degradados, sendo útil à sucessão natural. Assim como podemos comê-lo, muitos insetos polinizadores e controladores biológicos já o fazem, e fazem um trabalho colaborativo com o carrapicho na manutenção dos sistemas de vida.
Se você não tem alergias a plantas da família Asteraceae e não estiver grávida, pode ingerir a Bidens Pilosa tranquilamente, pois ela não causa efeitos tóxicos ao ser humano. Na verdade ela é nossa aliada, e eu me divirto pensando que ela nos espeta justamente avisando: “ei, estou aqui pra ajudar”.
IMPORTANTE: jamais faça a ingestão ou uso medicinal de plantas que você não conhece, não sabe identificar ou sobre as quais têm pouca informação. Se estiver grávida, busque saber se a planta é segura para gestantes. Evite tomar o mesmo chá por mais de 7 dias seguidos, e sempre que necessitar de tratamentos mais longos busque acompanhamento profissional ou de pessoas preparadas para dar orientações sobre o uso seguro de plantas medicinais. Plantas são indivíduos cheios de características específicas e influenciam nos ecossistemas. Antes de arrancar uma planta do chão, busque saber mais sobre ela. Antes de plantar, também.
Texto e foto por Isadora Lescano – Jornalista, Consultora em Alimentação Natural e colaboradora EcoLab