É em memória dos pais Santina e Francisco Irineu Gonçalves que Everaldo e os nove irmãos mantêm viva a tradição da farinhada no engenho da família, em Ibiraquera, bairro de Imbituba.
Ali, todos cresceram ajudando os pais na lida de plantar e colher a mandioca. “Naquele tempo difícil, quando tudo era feito à mão, o pai fazia 600 sacos de farinha, durante quase meio ano. Dormia às 5h da tarde e às 10h já estava de pé para trabalhar a noite toda no engenho e de manhã ir para a roça de novo”, conta Everaldo, o filho mais moço, que se emociona com a herança de conhecimento deixada pelo pai. “Se formos pros nossos filhos 50% do que o pai foi pra nós, já vai ser bom demais. Meu pai não teve o estudo, tinha só a 4ª série, mas ele era iluminado! Conhecia tudo e trabalhava por dois homens”, completa.
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Com a ajuda dos amigos, eles ainda sentam em roda e descascam a mandioca na faca, ao som das conversas e das risadas. Maria, a irmã mais velha, é a forneira oficial da família. Desde quando muito pequena usava meio “arque”, uma espécie de balaio, para alcançar no forno e fazer o vai-e-vem da farinha, que hoje é por um motor elétrico. “Agora, não dá tanto trabalho. Só que não se tem tempo pra isso e nem terra pra plantar”, lamenta Everaldo.
No ano passado (2022) foram 20 sacos de 45 quilos cada, divididos entre os dez irmãos: Maria, Manoel, Ubelina, Paulino, Alcides, Romualdo, Onércia, Orlando, Adriana e Everaldo, e todos aqueles que ajudaram no processo. “A gente não pode deixar morrer essa tradição, está acabando. Hoje tem só uns 4 teimosinho que continuam. O Dãozinho, o Manequinha, ali na tia Camila”, conta o Everaldo, que tem mandioca plantada para garantir a farinhada de 2023. “Enquanto estiver vivo, eu vou continuar. Pra manter a tradição e a palavra dada para o pai antes de falecer.”
TRADIÇÕES REGIONAIS: DEBATE E INFORMAÇÃO EM IBIRAQUERA
O projeto vencedor do edital do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROCULT) de Imbituba, apoiado financeiramente pela Fertisanta – Semeando Desenvolvimento, tem como objetivo utilizar o diálogo e a conversação entre atores da sociedade civil, como líderes comunitários e de entidades representativas, especialistas de áreas técnicas, membros das comunidades tradicionais, como pescadores, agricultores, artistas, artesãos, estudantes e professores, como ferramentas de trabalho através de um painel de apresentação de ideias, conduzido por personalidades da comunidade de Ibiraquera que têm relação com as tradições locais dentro da pesca artesanal, da farinhada, entre outras, revelando como estas práticas se relacionam com preservação do ecossistema na região da Ibiraquera e buscando solução para os desafios apresentados de maneira colaborativa com a sociedade.
A Farinhada da Família Gonçalves e de tantas da região é pauta deste diálogo buscando mapear os desafios e buscar soluções!
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Fotos: Fabrício Photos