22 de Setembro. Dia Mundial Sem Carro. Uma data que convida a nos mover pelo mundo de formas menos poluentes e por isso também menos individualistas. Um chamado para buscarmos uma relação mais responsável com os automóveis. Ou apenas mais um dia em que podemos escolher deixar o carro na garagem, ou dispensar o uber e sair pedalando.
Eu e várias integrantes aqui da rede Saberes e EcoLab somos adeptas e adeptos da bicicleta. Acredito realmente que é a melhor solução em mobilidade urbana, especialmente para os grandes centros. Acredito porque experimentei isso. Por mais de 10 anos, vivi sem carro. Tudo começou em Porto Alegre, em 2011, quando decidi vender o “auto” e me aproximar da bicicleta e de pessoas que estavam construindo cultura urbana de jeitos muito interessantes. Pedalar na cidade transformou minha vida de uma forma que jamais poderia imaginar.
Participando da cultura da bicicleta nas ruas, eu conheci a Tássia Furtado e a Aline Cavalcante, duas mulheres inspiradoras, ativistas porreta, desde muitos envolvidas na missão mobilidade urbana. E esse ano, acompanhando elas nas redes sociais, fiquei sabendo da campanha Amazônia Passa Aqui – uma série de circuitos urbanos que levam pessoas a encontrar um pouco de floresta ainda que no meio do asfalto. Através dos alimentos tradicionais, da arte de rua, das áreas de preservação, das plantas, das comunidades… E como vão a esses encontros? Pedalando, claro. A velocidade humana da bicicleta nos permite perceber detalhes que passam batido na pressa motorizada.
O projeto Amazônia Passa Aqui tem passado pelas cidades de São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG). Provoca a pensar na relação íntima entre cidade-campo-floresta e a buscar responder às perguntas: O que significa na prática a Amazônia em pé para você e seu bem estar? Como as cidades podem contribuir para manter a Amazônia viva?
Na campanha são abordados temas como os “rios voadores” gerados pela floresta, que atravessam o país carregando mais de 3.200 metros cúbicos de vapor d’água por segundo pelos céus – mais do que a vazão do rio São Francisco. Esse fenômeno é reconhecido por pesquisadores como fundamental para a agricultura e a qualidade de vida de quem está nas regiões Sul e Sudeste do país, proporcionando não só água limpa para essas cidades mas também conforto e equilíbrio térmico, melhora na qualidade do ar e chuvas. Benefícios que estão diretamente relacionados, por exemplo, com a questão do preço da energia na conta de luz, da água e dos alimentos.
Por outro lado, os hábitos de consumo das cidades também afetam a floresta, pois muitos recursos dali são extraídos. E percebo que a bicicleta tem o potencial de despertar pessoas, levando-as a expandir sua percepção da realidade. Para algumas, girar o pedais faz com que também gire uma chave dentro. Se eu for pensar na minha experiência, posso dizer que de alguma forma a bicicleta também me levou pra floresta, pra entender que nós humanos também somos Natureza. E quem sabe um dia me leve até pra uma cicloviagem amazônica?! Tá liberado sonhar!
Por Isadora Lescano – jornalista, bicicleteira, colaboradora Saberes/EcoLab